VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

Autores

  • Vanessa Meirelles Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
  • José Paulo Ramos dos Santos Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
  • Suelen Cristina de Miranda Pontifícia Universidade Católica de São Paulo http://orcid.org/0000-0003-4146-0006

DOI:

https://doi.org/10.1000/riec.v3i3.167

Resumo

O presente artigo explora uma das dimensões da vida de incontáveis brasileiros, tantas vezes negligenciados pelas políticas públicas: a fome. Esse aspecto é examinado a partir do conceito de necropolítica, desenvolvido por Mbembe (2018), em consonância com a compreensão de ralé brasileira, de Jessé Souza (2018), considerando que começar a jornada pela concepção dialética de sujeito enquanto produto e produtor da história parece ser a condição para não repeti-la. A fome, um problema estrutural conhecido há muito tempo no Brasil, vem ganhando expressão maior em meio à atual pandemia do coronavírus. Em lives de comunicadores digitais e artistas, a fome volta a assombrar os que não tem fome e podem comer, mas também faz arrepiar aqueles que dela padecem sem mais se assustar. O espetáculo midiático aborda a exclusão social apagando do cenário quem dela padece, de modo que o espanto perante a fome do outro parece ter saído de cena hoje em dia. O glamour das novas campanhas anestesia os sentidos e impede que o desconforto se instale, desconforto esse que, muitas vezes, parece ser a mola propulsora das ações transformadoras. Sendo assim, pensamos que na abertura para a indignação com a degradação da vida reside um elemento potente e mobilizador e, talvez, não haja melhor hora do que essa para nos debruçarmos sobre as lentes e vieses que utilizamos para enxergar o que nos rodeia: a precariedade da vida de uma grande parcela de nossa população.

 

PALAVRAS-CHAVE

Fome. Pandemia. Necropolítica. Políticas Públicas. Exclusão Social.

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Publicado

2020-12-21

Edição

Seção

Dossiês